Nos Estados Unidos, nunca tantos leram tanto sobre um único acontecimento
Os ataques terroristas em Nova York e Washington transformaram em best-sellers livros antes relegados ao fundo das prateleiras, provocaram relançamentos e, principalmente, deram novo alento a um segmento que andava meio desprestigiado: o dos livros instantâneos. Tradição nos Estados Unidos, essas obras costumam surgir a reboque de fatos quentes do noticiário. Chegam às livrarias em tempo curtíssimo, para desvendar os bastidores de uma história ou explicar determinados pontos do que está sendo discutido nos jornais. Hoje, 3.000 títulos relacionados aos acontecimentos de 11 de setembro disputam espaço nas vitrines americanas, uma coleção que, empilhada, teria os 90 metros da Estátua da Liberdade. São livros sobre islamismo, sobre grupos terroristas e até manuais de auto-ajuda que ensinam a encarar a tragédia. Doze deles encontraram espaço na lista de best-sellers do jornal The New York Times, entre os quais Taliban, do jornalista paquistanês Ahmed Rashid, e Report from Ground Zero, escrito por Dennis Smith, bombeiro que participou dos resgates no WTC. Ambos atingiram o segundo posto do ranking.
A última vez que o fenômeno de livros instantâneos sacudiu o mercado americano foi em 1997, com a morte da princesa Diana. Mas os números não chegaram nem perto dos atuais. Na época, 270 obras sobre Lady Di foram escritas ou relançadas. Em 1998, as editoras tentaram surfar no escândalo sexual protagonizado pela estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky e pelo então presidente Bill Clinton. Nenhum dos 26 títulos produzidos chegou a estourar. Alguns especialistas consideram que esse filão editorial foi inaugurado em 1871, quando um incêndio catastrófico em Chicago ensejou o aparecimento de vários relatos, despejados às pressas no mercado. Para outros, contudo, esse é apenas um caso isolado. O primeiro livro instantâneo moderno, produzido no contexto de uma indústria editorial já massificada, teria surgido em setembro de 1964, com a publicação em brochura do Relatório Warren, sobre o assassinato do presidente John Kennedy. Vendeu 1,7 milhão de cópias, um sucesso absoluto. Os livros instantâneos que gravitam em torno dos ataques terroristas representaram, em 2001, 5% dos lançamentos do mercado editorial americano, um colosso que movimenta 27 bilhões de dólares por ano. No Brasil, esse tipo de livro é inviável. "Como por aqui as tiragens são pequenas, o investimento feito numa obra de ocasião não daria retorno", observa Luciana Villas Boas, diretora editorial da Record.
Por: Tuany Dutra
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